O momento atual é complexo, bastante, mas dependendo de para onde olhamos e o que focamos, podemos descobrir saídas para utilizar a situação a nosso favor.
No ano passado, nós, da Thinkerest, decidimos realizar uma Pesquisa sobre Mercados Atuais e Futuros para esclarecer uma dúvida que já nos acompanhava há algum tempo.
Como consultoria, para prestarmos um serviço que realmente agregue valor, temos por premissa nos manter atualizados em relação a tendências, cenários, movimentos de mercado, novas tecnologias e tudo aquilo que impacta o empresário e seus negócios.
Vínhamos observando mudanças significativas na organização de mercados e o crescimento de uma nova economia, em que a aquisição do bem era substituída pelo serviço na aplicação que ele atendia, num movimento de compartilhamento em setores que nem imaginávamos antes que cabia.
Acompanhávamos, também, o impacto que a existência de um propósito empresarial -ou a ausência dele – causava junto a uma parcela significativa de clientes e consumidores, que vinham alterando seus motivadores e decisores de compra há algum tempo, situação visível para quem estivesse atento a este movimento.
Apesar de parecer um tema “eco-chato”, na avaliação de algumas pessoas, víamos também uma população mais consciente em seus hábitos de consumo, bastante preocupada com o impacto que sua existência, escolhas e ações causavam ao planeta.
E, como não poderia deixar de ser, percebíamos essa mesma população passar a cobrar das suas empresas e marcas preferenciais, e também daquelas que nem eram tão importantes assim, uma postura mais comprometida com o social e com o meio ambiente, o sustentável, o futuro.
A Pesquisa, à qual denominamos “Mercados Atuais e Futuros”, foi realizada então com 50 empresários que concordaram em participar, representantes de setores diversos da economia nos mercados de bens industriais, bens de consumo e serviços, para garantirmos um painel abrangente.
Fizemos convites a empresas mais maduras, quanto ao tempo de atuação no mercado. Tínhamos uma percepção clara de que aquelas companhias que nasceram mais recentemente já incorporavam conceitos e práticas típicas destes novos modelos, por isso queríamos conhecer como as empresas estruturadas há vários anos vinham buscando se informar, atualizar e implantar adequações à realidade destes novos mercados.
Resultados da Pesquisa
Pesquisa realizada, na amostra obtida, 72% das empresas tinham acima de 30 anos de mercado, com uma parcela expressiva daquelas que somavam mais de 50 anos de atuação. 72% empregava, naquele momento, entre 100 e 300 funcionários diretos, apresentando faturamentos entre R$ 30 e R$ 200 milhões ao ano.
Conduzimos as entrevistas buscando respostas às questões que apresentávamos, mas um dos nossos principais objetivos era avaliar, de maneira geral, o grau de consciência a respeito de todas estas mudanças que enxergávamos, na percepção do empresariado nacional, à frente de negócios estruturados em modelos mais tradicionais.
Durante as entrevistas, e principalmente na tabulação e análise, alguns pontos muito positivos se revelaram, excedendo nossas expectativas:
- A quase totalidade da
amostra, de uma forma ou de outra, demonstrou alto grau de consciência e
atualização em relação à maioria ou todas estas grandes mudanças pelas quais os
mercados vêm passando; - Praticamente todas as
empresas deram respostas bastante estratégicas quando questionadas sobre o que
deveriam fazer para se adequar a esta nova economia, cliente e consumidor.
Exemplificando com um resumo do estudo desenvolvido, considerando em todos os casos respostas múltiplas para as questões, para 46% da amostra, os principais problemas que a empresa enfrentava atualmente no mercado estavam relacionados com a marca (a falta de uma marca forte), um processo de comoditização e o atual portfolio de produtos, e 36% informava perceber alterações significativas das características e comportamento dos seus mercados de atuação.
Como soluções para curto prazo, 60% visualizava adotar ações relacionadas com o portfolio de produtos e sua adequação a esta nova realidade. 38% pensava em redirecionar sua empresa para o novo mercado, e 30% entendia ser necessário adotar diversificação, de forma ampla, e estratégias de competitividade.
Para o médio e longo prazos, 68% das respostas informavam a intenção de implantar ações de inovação e reinvenção em aspectos relacionados ao marketing estratégico, enquanto 38% relatou a necessidade de adotar ações relacionadas a canais, incluindo a importância de passarem a utilizar o e-commerce como adição aos canais atuais.
Questionados se sentiam mudança nos hábitos de clientes (B2B) e consumidores (B2C), 60% da amostra respondeu sentir alteração clara na forma de uso, consumo ou na maneira pela qual o consumidor vinha se relacionando com os produtos. 42% das empresas também sentiam mudanças nos hábitos de compra de clientes, relacionados ao canal (priorização da internet para comparação, escolha e aquisição) e frequência (maior frequência, volumes menores).
Quanto às medidas que as empresas já vinham adotando para se adequar a estas mudanças, 64% informou estarem focando em ações internas relacionadas ao modelo de gestão, cultura empresarial e padronização de processos, cientes de que a empresa deveria mudar seus conceitos no ambiente interno primeiro, para depois atuar de forma mais atualizada junto ao mercado. E 50% informava ações de monitoramento dos mercados interno, externo e o comportamento dos novos mercados.
Para os próximos 5 anos, 42% dos empresários esperava mudanças significativas na estrutura do mercado, e para os próximos 10 anos, 66% entendia que haveria um crescimento na conscientização de fabricantes, clientes e consumidores em relação à sustentabilidade.
“Precisamos nos preocupar com a marca e como ela vai aparecer no futuro, quanto à sustentabilidade. O consumidor passou a enxergar e se preocupar com isso.”
Como visão de futuro para suas empresas e negócios, quanto aos aspectos da gestão empresarial, 42% responderam ser necessária a reinvenção da empresa e do modelo de negócios até então adotado, incorporando novas tecnologias e competências. Para 34%, a adoção de um modelo mais moderno e voltado para o futuro seria obrigatória.
Para produtos e serviços, a visão de futuro para 80% dos empresários estava relacionada à ampliação, diversificação e a adoção de outras ações relacionadas ao portfolio, com clareza em relação à oferta do “novo”, de alguma forma.
Quanto ao modelo de negócios, 58% das empresas responderam ser necessária a adoção de ações de marketing em seus diversos níveis, especialmente o estratégico, com várias proposições relacionadas a canais, aqui incluindo novamente o e-commerce.
Estratégia e Ações Empresariais
À despeito das respostas positivas obtidas, em determinado momento da pesquisa, perguntávamos aos empresários quanto tempo eles e suas equipes dedicavam, atualmente, aos debates estratégicos, condição determinante para a realização destas soluções informadas.
Como respostas, 54% dos empresários informaram avaliar de alguma forma estas questões, mas não souberam precisar quanto tempo por não serem ações sistemáticas, em função da cultura empresarial e outros fatores ligados ao foco nas ações de curto prazo.
Ainda, 38% das empresas responderam não dedicar e dispor de tempo algum para estes debates, por estarem completamente concentradas no cotidiano e nas ações consideradas emergenciais.
E então, em março de 2020, estas 50 empresas e todas as outras do planeta se viram frente a uma situação “inesperada”. Sim, coloquei entre aspas porque, na verdade, sinais não nos faltaram para perceber que uma série de coisas não andavam bem, inclusive para o próprio planeta, um tanto quanto abalado pela ação que provocamos diariamente.
“Caminhamos para uma situação em que todos terão que rever sua forma de uso e consumo de produtos e serviços. O mundo, como o conhecemos, não vai aguentar a mesma condição de utilização e demanda que assumimos hoje.”
Estávamos muito ocupados com o nosso dia-a-dia e a prática diária da sobrevivência para olhar um pouco mais à frente. Afinal, se o problema poderia vir amanhã, se é que viria, por que perder tempo com isso hoje? Tínhamos assuntos realistas e relevantes a resolver e encaminhar.
Mas, de repente, tudo parou. Sem aviso prévio, sem tempo para nos prepararmos. E, por ironia, o que parou foram os nossos problemas do cotidiano, aqueles todos que eram para ser resolvidos ontem.
Pronto! Ainda que queiramos teimar, não temos mais como resolver estes problemas, pelo menos para uma grande parcela de empresas que não atua no mercado de gêneros de primeira necessidade.
O problema atual não está ligado ao que vamos fazer amanhã, ou nesta semana, mas em como enxergar a continuidade da empresa quando tudo isto passar. E que desenho empresarial vemos quando olhamos mais longe? O mesmo que tínhamos?
Pessoalmente, acredito que não. Mudanças já vinham ocorrendo, várias, continuam acontecendo diariamente e não temos a menor possibilidade de gestão e controle de nada disso.
Mas, por paradoxal que possa parecer, em meio a essa situação com contornos bastante complexos, ganhamos como presente um recurso altamente escasso em nossos dias: tempo!
Reposicionando o Olhar
Agora dispomos de um tempo que não imaginávamos ter antes de tudo isso começar, e nossa recomendação para todas aquelas empresas com as quais nos relacionamos é: aproveite, aproveite muito bem esse tempo para tirar da gaveta, do papel e da cabeça todas aquelas ideias que esperavam um momento oportuno para vir à realidade.
Aproveitem, também, para fazer todas aquelas mudanças, ajustes e correções de problemas internos bastante conhecidos, mas que também esperavam pacientemente na fila das prioridades para que tivéssemos tempo de olhar para eles. O momento é agora!
“Tudo passa e isto também passará”. Frase bastante conhecida e que soa quase ingênua ou inoportuna num momento em que, para onde quer que olhemos, as coisas parecem se desintegrar, dentro do conceito que fazíamos delas até então.
Mas vai passar, sabemos disso, e quando passar, teremos que retomar nossas atividades enquanto empresários de alguma forma. Defendo que seria importante, muito, retomarmos melhores do que estávamos quando tudo isso começou.
Voltando à pesquisa que conduzimos, está claro para nós que cada empresário tem bastante nítidos os problemas e, inclusive, as soluções a serem adotadas para revertê-los.
“Não temos que ficar brigando com o mercado. Temos que entender o que está acontecendo e nos adaptar às mudanças.”
Sendo assim, é hora de colocar a casa em ordem! Usar o tempo das lideranças para pensar e repensar o futuro, neste momento, exercitando as reuniões virtuais.
Qual será o novo desenho da sua empresa? Qual o modelo de negócios que vai caber neste novo mercado? Quais os canais que precisariam ser desenvolvidos? Qual portfolio atenderá a esta nova demanda? Que competências faltam à empresa e às equipes e que precisaríamos agregar? Que novas soluções tecnológicas precisaríamos adotar para estarmos mais adequados e responder na velocidade que o novo cliente e consumidor esperam?
E que marca queremos deixar no planeta? É possível associar os objetivos empresariais às práticas de sustentabilidade, tão necessárias? Qual o propósito da empresa? Como lidamos com o social?
Sim, temos muito o que refletir, se possível, decidir, mas agora temos o tempo a nosso favor.
Quando as atividades forem retomadas, seja para o mercado, a economia, seus clientes e consumidores a empresa que você gostaria de ser, e que vai continuar escrevendo sua história no futuro. Aquela que você desenhou um dia em sua mente, mas que por diversas razões, faltou tempo para colocar tudo em prática.
Agora dá!
Um abraço e até o próximo artigo!
Viviane Misko, Diretora Geral na Thinkerest Consultoria Empresarial
Thinkerest Consultoria Empresarial
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